24/09/2015
Diagnósticos precoces de gestação em ovinos são temas de pesquisa do IZ
A característica da
ovinocultura de corte brasileira, há 15 anos, era mantida em cultura de subsistência. Atualmente, tem fortes aliados, diante de grandes
propriedades com milhares de cabeças, atuando de maneira enérgica, em um
mercado mundial crescente. Porém, quanto custa manter uma fêmea vazia na
propriedade? Com essa indagação, pesquisas da Secretaria de Agricultura e
Abastecimento do Estado de São Paulo, por meio do Instituto de Zootecnia
(IZ/Apta), assinalam as metodologias para se diagnosticar uma ovelha prenhe no
rebanho, o mais breve.
Na tentativa de se
melhorar os índices produtivos, maximizando a vida reprodutiva da ovelha, pela
maior produção de cordeiros – seja pela antecipação do primeiro parto ou pelo
maior número de partos múltiplos, surgem como opção os Sistemas Acelerados de
Parição, cujo principal objetivo é, justamente, aumentar o número de cordeiros
por ovelha, diminuindo, principalmente, o intervalo entre partos.
“Certamente, esperar
cerca de quatro meses até o mojo ou então os cinco meses até a parição para
descobrir se a ovelha estava realmente prenhe não estão entre as melhores
alternativas ou mais indicadas economicamente”, destaca o diretor do Centro de
Pesquisa em Zootecnia Diversificada e pesquisador do IZ, Ricardo Lopes Dias da
Costa.
A estimativa de
consumo de carne ovina no Brasil permite avaliar que houve um aumento de 400%
em 12 anos. Passou de um consumo de 200 gramas em 1998 para 700 gramas em 2004
e, aproximadamente, a 1kg em 2010. E mais, durante esse período houve um
acréscimo animador no preço da carne ovina e uma produção mundial de ovinos
superior a 20,5%.
O secretário de
Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Arnaldo Jardim, destaca que
com essa nova visão os pequenos e médios criadores tendem à intensificação e
tecnificação da produção, com uma exigência de maximização da eficiência. "O
governador Geraldo Alckmin reafirma seu compromisso com o criador, diante dos
trabalhos de transferência de tecnologia dos Institutos de Pesquisa da
Secretaria de Agricultura, que visam à competitividade da cadeia de proteína animal”,
destaca Arnaldo.
Técnicas - Para que o
diagnóstico de gestação apresente uma utilização viável dentro de uma criação
de ovinos, ele deve atender alguns pontos, por exemplo, ser de fácil aplicação,
alta acurácia (acerto), baixo custo de execução e implantação.
Além disso, alguns
diagnósticos possibilitam a descrição e o acompanhamento do desenvolvimento
embrionário e fetal, com detecção de prováveis perdas – reabsorção embrionária
e morte fetal –, assim como a identificação de fêmeas vazias precocemente – não
prenhez, permitindo nova tentativa de gestação, seja com uso de reprodutores ou
com biotecnologias. “O descarte precoce orientado, das fêmeas que falharam é,
ainda, muito importante economicamente – pois há a possibilidade de
direcionamento individual do arraçoamento de acordo com a fase reprodutiva de
cada ovelha, seja vazia, gestação simples, gemelares ou múltiplas”, explica
Ricardo.
Dentre os métodos de
diagnóstico, o pesquisador diz que há o presuntivo (não retorno ao estro) –
modo impreciso com muitos falsos-positivos e falsos-negativos (raças
estacionais, falhas nutricionais); palpação abdominal – eficiência boa quando
executada em uma prenhez mais adiantada, embora possa causar muito estresse aos
animais e risco de abortos e traumas; radiografia – diagnóstico não tão precoce
utilizado, normalmente, para uma ou poucas fêmeas, não para rebanhos; também há
biópsia e laparoscopia – procedimentos eficazes, mas que precisam de material
apropriado e experiência do técnico, com risco de estresse e abortos; esfregaço
ou citologia vaginal – não é confiável para ovelhas.

Ricardo ainda cita as
dosagens de hormônios e proteínas associadas à gestação como de boa eficácia,
entretanto, alguns são caros e necessitam de laboratório apropriado,
entretanto, atualmente, estão sendo testados alguns kits comerciais para ovinos;
o diagnóstico por ultrassonografia – através do efeito doppler, do modo A ou do
modo B.
Os três métodos de
diagnóstico por ultrassonografia, segundo Ricardo a grande vantagem está em não
serem invasivos, “variam em relação à precisão do diagnóstico, tempo despendido
para a realização do exame e a acurácia na determinação do número de fetos e
sua idade”. “Dependem, ainda, da sensibilidade do equipamento e qualificação do
profissional. O mais utilizado é o modo B”, explica.
O dispositivo
Doppler, que não envolve imagem, detecta os batimentos cardíacos fetais e o
fluxo sanguíneo nos vasos uterinos e fetais, através de ondas mecânicas de
frequência ultrassônica contínua que, depois de refletidas nas artérias e
veias, coração e válvulas, retorna o eco ao transdutor, produzindo sinais
audíveis pelo técnico; no entanto, o criador verá uma melhor resposta a partir
da segunda metade da gestação.
Estudos mostram que a
ultrassonografia no Modo A é baseado na detecção da faixa fluída presente no
útero, também produzindo sinais visuais ou audíveis. “Uma das desvantagens do
Modo A é que, como se baseia em fluídos, o diagnóstico pode apresentar um alto
índice de falsos-negativos nos períodos antes do 28º dia e depois do 80º dia de
gestação, uma vez que nessas fazes os fluídos ligados à gestação estão
diminuídos”, detalha Ricardo.
“Além disso, com o
posicionamento errado do transdutor, ou, ainda, algum distúrbio, poderá confundir
com a vesícula urinária repleta ou hidrometra e piometra e, nesses casos,
poderá também ser dado um diagnóstico equivocado – falso-positivo”, detalha o
pesquisador.
O Modo B produz
imagens pela modificação e transformação eletrônica dos sons, técnica mais
utilizada, obtendo, em tempo real, escalas de cinza para indicar os sinais
refletidos de amplitudes diferentes, sendo avaliadas como anecoicas (escuras),
hiperecoicas (brancas) e hipoecoicas (maior ou menor intensidade). “Os fluídos
(vesículas embrionárias, vesícula urinária repleta) são apresentados na imagem
com a cor preta (anecoico), os tecidos mais densos (ossos) com a cor branca e
os intermediários (tecidos moles, paredes de órgãos) que aparecem com tons
diferentes de cinza”, explica Ricardo.
O diagnóstico de
gestação por ultrassonografia, Modo B, de acordo com o pesquisador, oferece
resultados eficientes, rápidos, práticos e com segurança tanto para o animal
quanto para o operador. “Além disso, um diferencial importante dessa técnica
está, justamente, em produzir imagem – como acompanhamento fetal, principalmente,
a quantificação fetal, a estimativa de idade gestacional e a avaliação do
aparelho reprodutivo da ovelha com possíveis diagnósticos de patologias
uterinas. Possibilita também a sexagem fetal, ferramenta de grande utilidade, especialmente,
quando se trabalha com biotécnicas”, ressalta Ricardo.
Apesar das
possibilidades de realização dessa técnica via transvaginal e transabdominal, a
mais comumente utilizada é a via transretal, possibilitando um diagnóstico de
gestação de alta acurácia em todas as fazes da prenhez a partir do 20º dia
pós-cobertura ou inseminação.
Porém, Ricardo alerta
que o técnico prestador desse serviço deve ser muito bem capacitado, para não
fornecer diversos resultados errado e comprometer a confiabilidade da
ultrassonografia.
A pesquisadora do IZ,
Keila Maria Roncato Duarte também destaca que alguns “kits” de diagnóstico de
gestação, por ELISA, para identificação das glicoproteinas associadas à prenhez
(PAG´s) estão disponíveis no mercado. “Alguns desses kits necessitam, para sua
realização, de laboratório e equipamentos específicos, o que dificulta sua
maior utilização”, explica.
Por outro lado, Keila
diz que os “kits” de ELISA, com diagnóstico visual – sem a necessidade de
equipamentos–, estão sendo introduzidos no mercado, com a intenção de facilitar
o diagnóstico e popularizar seu uso entre os veterinários de campo. “Entretanto,
esses são validados para bovinos a partir dos 28 dias de gestação”, salienta.
Na Unidade de Ovinos
do Instituto de Zootecnia, estão sendo desenvolvidos trabalhos, que farão parte
de dissertações de Mestrado, como da médica veterinária, Camila de Miranda e
Silva Chaves, alunado curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável do
IZ, para validação desses kits, agora, para a espécie ovina. “Os resultados
preliminares são bem animadores, trazendo facilidade de realização e agilidade
nos diagnósticos, com alta sensibilidade e especificidade”, afirma Keila.
Os pesquisadores
destacam que o custo de se manter uma fêmea vazia no plantel por cinco meses
por ano ou mais ainda é muito variável e depende do tipo de cada criação – de
exploração, de tecnificação.
“No entanto, como se
trata, muitas vezes, de custos indiretos, como pasto ingerido pela ovelha
vazia; espaço ocupado pela ovelha vazia; vermífugos, vacinas e medicamentos para
ovelha vazia, os produtores devem estar atentos, pois não costumam contabilizar
custo e isso faz toda a diferença na produção”, enfatiza Ricardo.
Dessa forma, só o
fato do diagnóstico precoce da gestação proporcionar a possibilidade do
descarte precoce orientado, ou até mesmo do arraçoamento correto das ovelhas (o
que leva a pesos mais elevados de cordeiros ao nascimento, ovelhas com maior
produção de leite ao parto, retorno ao estro e possibilidade de nova prenhez
mais precoce) já justificaria, economicamente e na prática, a utilização das
técnicas disponíveis de diagnóstico.
por Lisley Silvério
Assessoria de
Comunicação
Secretaria de
Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo
Instituto de
Zootecnia
lisley@iz.sp.gov.br
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