15/02/2017
Técnica de manejo desenvolvida pelo IZ orienta pecuaristas a fazer o controle de parasitas em seu rebanho
O estudo revela como produtores de leite do Noroeste
Paulista fazem o controle do carrapato e outros parasitas em suas propriedades.
O Instituto de
Zootecnia (IZ), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São
Paulo, realizou pesquisa com 40 produtores de leite da região noroeste de São
Paulo para levantar a situação de controle do carrapato bovino, Rhipicephalus (Boophilus) microplus nos
rebanhos leiteiros e de outros parasitas, como berne, bicheira, etc. O estudo
revelou que os produtores sabem pouco sobre a biologia do carrapato e há falhas
no controle, que podem levar à resistência genética do carrapato aos
carrapaticidas.

O trabalho
coordenado pelos pesquisadores do IZ – Cecília José Veríssimo, Keila Maria
Roncato Duarte e Valdinei Tadeu Paulino –, foi desenvolvido pela aluna do
mestrado do IZ, Flávia Vasques. O estudo foi realizado em 20 propriedades ligadas
ao Projeto CATI Leite e 20 que não participam do projeto, nos municípios de
Fernandópolis, Meridiano, Macedônia, Pedranópolis, São João das Duas Pontes,
Estrela d’Oeste, Guarani d’Oeste, Ouroeste, Populina, Indiaporã, Aspasia,
Votuporanga, Valentim Gentil e Cosmorama.
As informações
geradas por meio da aplicação de um questionário, contendo 97 perguntas, abordaram
temas relacionados à caracterização do entrevistado, da propriedade e do
rebanho, área da pastagem e espécies forrageiras, adubação e manejo de
pastagem, conhecimentos sobre biologia e resistência de carrapatos, aplicação
de carrapaticida e controle de carrapato e caracterização das propriedades
quanto ao controle de outros parasitas.
De acordo com
Cecília Veríssimo, as propriedades participantes do projeto CATI Leite têm uma
vantagem a mais sobre os não participantes, por utilizarem muito bem das
tecnologias indicadas para a produção leiteira sustentável, como o uso e manejo
intensivo de pastagens – pastejo rotativo –, e adubação do pasto com ureia. “Contudo,
a maioria dos produtores rurais ainda não realiza corretamente o controle de
carrapatos com critérios técnico-científicos, fundamentando-se apenas na
avaliação subjetiva da infestação nos animais, e, desta forma, aplica os
carrapaticidas com grande frequencia, às vezes a intervalos semanais.”
“Alta frequência
de aplicação do carrapaticida favorece o estabelecimento da resistência
genética dos carrapatos aos carrapaticidas comerciais, pois seleciona e propaga
alelos de resistência por pressão de seleção”, reforça a pesquisadora.
O trabalho
destacou que 55% dos produtores estão na atividade leiteira há mais de 20 anos,
e que 17,5% dos criadores entraram na atividade há cinco anos. Conforme explicou
a pesquisadora do IZ, as propriedades apresentaram grande potencial para
integração lavoura-pecuária-floresta, sistema que promove um excelente controle
da fase de vida livre desse parasito.
Em 42,5% das
propriedades a média da produção leiteira é entre 200 e 500 litros de leite por
dia, e 87,5% utilizam a ordenha mecânica, caracterizando assim como pequena
propriedade leiteira, mas que se utiliza de tecnologias.
De acordo com o
estudo, 65% da região são de exploração mista – carne e leite –, sendo que em
52,5% das propriedades a bovinocultura leiteira é a principal fonte de renda,
contribuindo com 30% na renda familiar. Além de 70% das propriedades estudadas
terem criação de bovinos cruzados (Bos
taurus indicus x Bos taurus).
Cecília salienta
que os animais mestiços são importantes, por “contribuírem para diminuição da
infestação de carrapatos, pois os bovinos de raças zebuínas e mestiças são mais
resistentes ao parasitismo”. “Até mesmo os animais da raça Jersey e,
principalmente, os da raça Nelore, são controladores biológicos do carrapato,
pois além do menor número de fêmeas ingurgitadas caídas nas pastagens, ainda são
de menor tamanho e põem menos ovos, de onde eclodirão menos larvas, sendo um
fator decisivo para a diminuição da infestação das pastagens.”
“O carrapato
depende apenas de um hospedeiro em seu ciclo de vida, preferencialmente os
bovinos”, falou Cecília, ao explicar que o ciclo de vida do carrapato apresenta
duas fases complementares – a de vida livre com a queda da fêmea ingurgitada
nas pastagens até a eclosão das larvas, e a de vida parasitária, que se inicia
quando a larva se fixa no hospedeiro, com duração média de 21 dias. “A fase de
vida livre depende muito da temperatura ambiente e da umidade relativa do ar,
por isso o conhecimento da biologia do carrapato, por parte do produtor rural,
é um passo importante para o melhor controle do parasita.”
Investigações já
realizadas no país mostraram que a maioria dos produtores não conhece ou
conhece parcialmente esse ciclo biológico do carrapato, em consequência, aplica
o carrapaticida de forma incorreta, com equipamentos inadequados e com muita
frequência.
“As
consequências mais danosas do uso incorreto de carrapaticidas estão no rápido
desenvolvimento da resistência aos acaricidas e o acúmulo de resíduos químicos nos
animais e no ambiente”, destacou Cecília.
Em 87,5% das propriedades visitadas não se
utilizavam nenhuma alternativa de controle do carrapato, dependendo
exclusivamente das drogas. Com a dependência dos produtos químicos, as aplicações
tornam-se mais frequentes e, por consequência, os parasitos ganham maior
resistência aos acaricidas.
No entanto, existem
alternativas ao uso dos carrapaticidas. O levantamento feito com os produtores
da região noroeste do Estado de São Paulo revelou que alguns produtores faziam
uso de produtos homeopáticos, e estudos têm revelado que esta terapêutica pode
contribuir para o controle do carrapato.
Outro fato
importante neste levantamento, foi a observação por 92,5% dos entrevistados
sobre a presença de inimigos naturais do carrapato, como a “Garça vaqueira”,
galinhas e outras aves, que colaboram com o controle, ingerindo as fêmeas
ingurgitadas ainda sobre os animais ou no solo.
Para a
pesquisadora, o uso de tecnologias adequadas, o acompanhamento zootécnico do
rebanho bovino, o planejamento financeiro e produtivo e a melhor aplicação dos
recursos disponíveis, “podem tornar a atividade leiteira mais rentável aos
produtores rurais”. “O IZ tem trabalhado na difusão de tecnologias, colaborando
com os produtores, por meio de cursos e treinamentos com visita ao campo”,
detalhou.
A pesquisa
revelou que a maior parte dos produtores, 32% dos entrevistados, ainda busca
novas informações participando de cursos e palestras, enquanto 19% procuram informação
com outros produtores, 12% buscam na internet, outros 12% por meio de livros e
revistas e 11% em feiras e exposições. Mas Cecília enfatiza que o trabalho dos
técnicos na transferência do conhecimento sobre o controle do carrapato, ainda
é a melhor ferramenta para diminuir as infestações e resistências dos
parasitas.
O Secretário da
Agricultura e Abastecimento, Arnaldo Jardim, destacou a relevância da cadeia
produtiva do leite para a economia brasileira, pois além de gerar empregos, tem
importante papel social ao manter os pequenos e médios produtores de leite na
zona rural, com qualidade de vida.
“Os trabalhos de
pesquisa e assistência técnica aos produtores é de suma importância para a
sustentabilidade da cadeia produtiva, considerando o bem-estar animal,
segurança ao produtor e, principalmente, ao consumidor final, pontos muito
preconizados pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin para o agronegócio
do setor”, enfatizou Arnaldo.
Perdas econômicas
O custo de
produção de leite pode ser elevado decorrente do manejo sanitário, com destaque
para o controle do carrapato Rhipicephalus
(Boophilus) microplus. Este é um dos parasitas mais nocivos a bovinos
suscetíveis – de origem europeia e seus mestiços –, principalmente os da raça
Holandesa, uma das mais suscetíveis do mundo a este carrapato.
O ectoparasita
causa grandes prejuízos no desempenho produtivo e econômico dos sistemas de
produção, decorrente de reduções no ganho de peso e na produção leiteira,
diminuição na fertilidade, ocorrência de doenças, transmissão de patógenos,
danos ao couro, estresse animal, perdas por morte.
A perda
econômica causada por tal parasitose pode ultrapassar os U$ 3 bilhões ao ano no
Brasil, segundo estimativas. Os gastos com antiparasitários no país são
altíssimos, sem, no entanto, resultar em controle satisfatório. Essa situação pode
ficar ainda pior com o aumento dos rebanhos de produtores de leite, já que a
situação epidemiológica e o controle do carrapato pouco se modificaram ao longo dos anos.
No levantamento
feito na região noroeste do Estado de São Paulo, os produtores associaram ao
carrapato os prejuízos decorrentes de doenças como Tristeza parasitária bovina
(TBP), bicheira, perda de peso, queda na produção leiteira e mortalidade.
O carrapato Rhipicephalus microplus também é o
principal transmissor dos agentes da TPB, Anaplasma
e Babesia, e o aumento da
infestação está relacionado à maior ocorrência de doença. Igualmente, o aumento
da infestação por carrapatos está relacionado ao aumento de miíases pela mosca Cochliomyia hominivorax (mosca da
bicheira) em bovinos.
Exames e tratamentos
O fato de o produto
não ser eficaz é uma reclamação constante observada no campo. Por isso, a
importância de se divulgar o exame biocarrapaticidograma. Este exame é
realizado gratuitamente, ou a preços acessíveis por alguns órgãos de pesquisa e
ensino no Brasil. O resultado deste exame indica quais os melhores carrapaticidas
a serem usados na propriedade.
No controle do
carrapato, Cecília disse que, além de saber qual a melhor base de carrapaticida,
é muito importante a forma da aplicação do produto. “Para quem utiliza bomba
costal, é relevante observar os seguintes aspectos: diluição da calda correta,
de acordo com a informação do fabricante e calcular a quantidade de calda a ser
dada a cada animal.”
O ideal é, no
mínimo, 3 litros de calda por animal, banhando os animais, preferencialmente
contidos, para que o jato possa ser dirigido para as regiões onde os carrapatos
se concentram – períneo, base da cauda, vulva, virilha, barriga, barbela,
pescoço, e dentro e fora das orelhas. O produtor deve pulverizar seguindo na
direção de baixo para cima, a fim de conseguir ultrapassar a barreira dos
pelos.
Alguns
pesquisadores ressaltam a importância do tratamento sincronizado de todos os
animais de uma propriedade, para uma estratégia de controle em intervalos
pré-determinados – controle estratégico.
Um exemplo é
fazer seis banhos seguidos, com intervalos a cada 21 dias na entrada da
primavera. Entretanto, recentemente, devido aos problemas com a resistência
genética dos carrapatos aos carrapaticidas, está se estudando o controle
seletivo ou tático.
“Tem sido estudado
e utilizado com muito sucesso a aplicação do carrapaticida somente nos animais
mais infestados, tanto em bovinos de corte, como em gado mestiço leiteiro”,
destacou Cecília.
Por Lisley Silvério (MTb. 26.194)
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