Coordenado pela pesquisadora Cecília José Veríssimo, o tema é considerado
de grande relevância para o agronegócio. Estimativas recentes calculam que os
prejuízos causados pela infestação de carrapatos em bovinos ultrapassam U$ 3,4
bilhões ao ano, somente no Brasil.
O ectoparasita causa grandes prejuízos no desempenho produtivo e
econômico dos sistemas de produção, decorrente de reduções no ganho de peso e
na produção leiteira, diminuição na fertilidade, ocorrência de doenças,
transmissão de patógenos, danos ao couro, estresse animal, perdas por morte.
O custo de produção de leite, por exemplo, pode ser elevado em decorrência
do manejo sanitário, com destaque para o controle do carrapato Rhipicephalus (Boophilus) microplus, um
dos parasitas mais nocivos aos bovinos de origem europeia e mestiços,
principalmente os da raça Holandesa, uma das mais suscetíveis ao carrapato.
Segundo Cecília, as raças zebuínas, como Nelore, Gir e Guzerá, muito
utilizadas no Brasil, têm resistência natural aos carrapatos, diferente das
raças europeias, muito suscetíveis a esses ectoparasitas.
“Por ser o carrapaticida, ainda, o principal meio de controle do
parasita, o fenômeno da resistência está espalhado por todo o país e novas
formas alternativas de controle são cada vez mais necessárias”, destacou
Cecília.
Alternativas
O IZ está desenvolvendo um produto a base de óleos essenciais – um fitoterápico
oriundo de substâncias naturais com ação acaricida e repelente –, que já apresenta
resultados promissores no controle do carrapato.
Segundo Cecília, o produto está em fase de uma formulação comercial. “É
um produto natural, com baixa toxicidade, que combate com eficiência o
carrapato nos bovinos e poderá ser usufruído de imediato pelos produtores,
beneficiando principalmente os animais.”
O projeto em desenvolvimento no IZ em parceria com a empresa HYG System avaliou
a eficácia em relação a pragas de importância veterinária, como a mosca do
chifre, mosca do berne, mosca dos estábulos e o carrapato. Estão à frente do
projeto as pesquisadoras Cecília José Veríssimo, Luciana Morita Katiki, e o
mestrando do IZ, Leandro Rodrigues.
De acordo com Cecília, as melhores estratégias de combate, ainda, estão
na rotação de piquetes, uso de fungos na pastagem, já recomendados para pragas
da pastagem, como, por exemplo, o Metarhizium
anisopliae, rotação pasto x cultura, adubação orgânica com aplicação de
fungo ou nematoide entomopatogênico, ou adubação dos piquetes com ureia,
descarte de animais susceptíveis, uso de raças mais resistentes, como a Jersey
ou animais mestiços zebuínos, como a Girolanda. “Criar a raça Gir leiteiro ou
Guzerá leiteiro seria a solução ideal para quem quer produzir leite sem ter
problemas com o carrapato. No gado de corte, o problema do carrapato está
resolvido, pois a raça Nelore é a mais resistente de todas ao parasito”, explicou Cecília.
Os palestrantes do Workshop, ligados à agricultura orgânica, também,
debateram sobre o assunto, apontando alternativas para o problema e possibilidades
de se criar animais com o uso mínimo ou nenhum de carrapaticida químico.
O
workshop foi aberto com Fabio Barbour Scott, da UFRRJ, e Carlos Perez, da Esalq/Usp.
O tema da primeira mesa redonda foi “Carrapaticidas: é possível criar bovinos
sem usá-los?”, moderada por Evandro
Massulo Richter, do Centro Paranaense de Referência em Agroecologia, Pinhais
(PR), com os palestrantes Fabíola Fernandes Schwartz, veterinária e assessora
em Boas Práticas Agropecuárias, produção agroecológica e orgânica animal, Paulo
Renato Tamassia Pégolo, médico veterinário da CATI de Avaré (SP), Cecília José
Veríssimo, pesquisadora do IZ, e Welber Daniel Zanetti Lopes, da UFGO, Goiânia
(GO).
Para
Richter, este ano, o workshop reforçou as ações sistemáticas no Controle do
carrapato e também as ações em relação aos resíduos químicos nos alimentos.
“Esteve excelente, pois abriu um universo de possibilidades para todos. Trata-se
de um assunto específico do controle no cotidiano, e foi possível mostrar que
tem pesquisa e uma diversidade de entidades envolvidas no assunto”, destacou.
“O controle do carrapato é algo dinâmico e deve
integrar diferentes abordagens e uma visão sistêmica da propriedade, entendendo
as relações do animal com o manejo, sistema de pastoreio, bem-estar, clima,
atuando de forma sistêmica no controle do carrapato utilizando princípios da
agroecologia, sem o uso de carrapaticidas convencionais”, ressaltou Richter.
Richter,
ainda, explicou que a utilização de práticas de manejo para evitar o estresse
dos animais jovens é um dos pontos principais da estratégia de controle, manejo
das pastagens, evitando sobras excessivas de forragem que podem servir de
abrigo para teleóginas e larvas. “A utilização de uma carga animal adequada, roçadas
estratégicas para aumentar a exposição solar e reduzir plantas com baixa
palatabilidade, também, colaboram para um efeito positivo no controle do
carrapato.”
A
segunda mesa redonda, com o tema “São os carrapaticidas pesticidas?”, contou
com o moderador por Romário Cerqueira Leite, da UFMG de Belo Horizonte (MG),
juntamente com os palestrantes Claudia Helena Pastor Ciscato, pesquisadora do
Instituto Biológico (IB), Wilkson Oliveira Rezende, do MAPA, Brasília (DF), Maria
Izabel Camargo Mathias, professora da Unesp Rio Claro (SP), e Maria Martha Bernardi, professora da UNIP em
SP.
Para
Romário Cerqueira, o evento mostrou que há alternativas, muito avançadas que
poderão ser utilizadas para enfrentar o problema, mas disse também que “outro
ponto muito importante está em capacitar melhor a mão de obra sobre o controle
de carrapatos, enfatizando a criação de políticas públicas para essa
área", opinou.
A pesquisadora do IB, Claudia, salientou que vem
aumentando o consumo, de
alimentos seguros, por seres humanos e animais. Para verificar, por
exemplo, a conformidade do uso de agrotóxicos nos alimentos – presença de
substâncias de uso recomendado, de uso não intencional ou contaminante do
alimento do animal –, há programas nacionais de controle de resíduos de
agrotóxicos em alimentos, principalmente os de origem animal.
“Os
carrapaticidas (acaricidas), na sua maioria, são substâncias químicas
(praguicidas), muitos também com ação inseticida e amplamente utilizados na
agricultura e pecuária, assim, o conhecimento destas substâncias, associados ao
uso de boas práticas na produção de alimentos e os estudos de monitoramento de
resíduos de contaminantes em alimentos são uma importante ferramenta do governo
para o controle da qualidade dos alimentos”, detalhou Claudia.
Também
foram apresentados estudos pela pesquisadora Maria Izabel sobre detalhes da
morfologia do carrapato e seus hospedeiros, que mostram como produtos químicos
e naturais podem ser tóxicos para ambos. Já a pesquisadora Maria Martha mostrou
as pesquisas que vêm realizando com ivermectina e sua ação no sistema
reprodutor de roedores machos, que comprometem o comportamento sexual e os
níveis de testosterona, além da correlação com lesões testiculares. Foi
observado redução no peso testicular, volume testicular e das células de
Leydig.
“Para controlar o carrapato, os
produtores têm aumentado a frequência das aplicações do carrapaticida, e a
concentração do produto na solução, a despeito do que é indicado por bula. Por
causa disso, têm sido cada vez mais comum a intoxicação de animais e de pessoas
que aplicam os produtos, sem contar a contaminação ambiental e os resíduos na
carne e no leite”, enfatizou Cecília.
Controle
Ao utilizar controle químico ou natural, é muito importante que a
quantidade de calda atinja bem a pele do animal, por isso é importante a pressão
na pulverização do produto. Deve-se pulverizar de baixo para cima, a fim de que
o produto possa ultrapassar a barreira dos pelos. A tosquia do pelame também
pode contribuir para o controle do carrapato, uma vez que animais com os pelos
curtos têm menos carrapatos.
Cecília destaca que a capacitação de mão de obra colabora em muito no controle
do carrapato. “O conhecimento sobre o assunto como um todo – biologia do
carrapato e formas de controle sempre são úteis ao produtor.”
Outro fator importante, destacado pela pesquisadora, está no uso do EPI
(Equipamento de Proteção Individual). É a forma que o aplicador tem de se
defender dos produtos que estão sendo aplicados nos animais, pois esses produtos
podem causar intoxicação tanto no homem, como nos animais. “Por isso, a
importância de se respeitar a dosagem recomendada na bula do produto, e jamais
alterar a quantidade, seja para menos como para mais, pois cada produto químico
vem com uma dosagem correta a ser aplicada sobre os animais”, sublinhou
Cecília.
“Novas alternativas de controle do carrapato do boi são de suma importância para a sustentabilidade da cadeia produtiva, considerando o bem-estar animal, segurança ao produtor e, também, a saudabilidade do produto para o consumidor final, pontos muito enfatizados pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin para o agronegócio do setor”, afirmou Arnaldo.
Por Lisley Silvério (MTb. 26.194)
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