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Seleção para peso pós-desmame em bovinos Nelore e Guzerá: 'Intensidade de seleção e respostas direta e correlacionadas'

Autores
Alexander George Razook - Orientador: Prof. Dr. Irineu Umberto Packer

Resumo

Os objetivos deste trabalho foram o de avaliar os diferenciais e intensidades de seleção praticados em pesos pós-desmame de bovinos Nelore e Guzerá e as respostas genéticas diretas e correlacionadas, com participação de uma população controle Nelore, não selecionada.
A partir de 1980, foram formados dois rebanhos de seleção, um Nelore (NeS) e o outro Guzerá (GuS) cada um com 120 vacas e 6 touros e um terceiro, o controle, também Nelore (NeC) com 60 vacas e 4 touros provenientes do plantel local. Os 6 touros dos rebanhos de seleção considerados fundadores, foram selecionados pelo maior peso aos 18 meses (P550) sendo três de três anos de idade e os demais de dois anos. Os 4 touros de NeC tiveram diferencial próximo de zero, no mesmo caráter sendo dois de três e os outros de dois anos.
A estação de monta foi sempre de três meses (1 de novembro - 31 de janeiro). Em NeS e GuS touros de três e dois anos de idade eram colocados individualmente com 25 ou 15 vacas respectivamente. Em NeC cada lote era de 15 vacas. Os lotes obedeciam à mesma proporcionalidade quanto à faixa etária das matrizes bem como ausência de parentesco com o reprodutor.
Os nascimentos ocorreram de meados de agosto a meados de novembro e após o desmame, efetuado aos 7 meses (abril), os machos eram encaminhados à prova de ganho de peso, em confinamento, até 13 meses sendo selecionados ao seu final (P378). As fêmeas eram mantidas a pasto até a idade de seleção, aos 18 meses (P550), em abril. Anualmente, em NeS e GuS eram selecionados três machos e 20 fêmeas com base no maior diferencial em P378 e P550 respectivamente, e com padrão racial aprovado pela ABCZ. Nos machos não mais de dois filhos do mesmo pai eram retidos. Em NeC a seleção anual era de 2 machos e 10 fêmeas com diferencial em torno de zero (média do rebanho). Os machos retidos eram filhos de touros que já tinham sido utilizados.
O descarte anual em NeS e GuS era na mesma quantidade, saindo touros que tinham servido por 2 anos e vacas doentes, inférteis ou mais velhas. Em NeC eram descartados 2 machos e 10 vacas segundo os mesmos critérios.
Os dados analisados foram relativos às progênies nascidas em 1981 a 1986. O total geral por rebanho e sexo (machos e fêmeas) foi, respectivamente para NeS, GuS e NeC de 495 (252 e 243); 380 (199 e 181) e 244 (145 e 99). As características analisadas foram: peso ao nascer (PN); peso ao desmame padronizado a 210 dias (P210); peso de machos ao final da prova (P378); ganho diário na prova (G112); peso de fêmeas padronizado aos 550 dias (P550); desvios de P378 da média do controle nesse caráter (DP378), e relação de P378) com média do controle (P/MC).
Os diferenciais de seleção efetivos no pai médio foram em média de 19,65; 20,74 e 4,08 kg respectivamente para NeS, GuS e NeS. As intensidades de seleção correspondentes foram 1,14; 0,82 e 0,17 u.d.p. Os diferenciais de seleção efetivos acumulados no pai médio para a progênie de 1986 foram de 51,01; 37,75 e 11,67 kg respectivamente para NeS, GuS e NeC. As intensidades de seleção acumuladas correspondentes foram: 2,02; 1,50 e 0,32 u.d.p.. A contribuição de touros nos diferenciais foi de 83% em NeS e 78% em GuS.
O intervalo de geração no pai médio para NeS, GuS e NeC foi respectivamente 4,86; 4,97 e 4,91 anos. O coeficiente de geração médio individual na progênie de 1986 foi de 1,7 gerações nos três rebanhos.
As análises estatísticas, dentro de sexo, empregaram modelos contendo efeitos de ano e mês de nascimento, idade da vaca, rebanho e interação ano x rebanho. As médias gerais não ajustadas, para as características de machos NeS, GuS e NeC foram respectivamente para PN: 29,8, 28,1 e 28,4 kg; P210: 184,7, 177,6 e 173,8 kg; P378: 297,7, 289,5 e 279,5 kg e G112: 730, 710 e 680 g/dia. Nas fêmeas NeS, GuS e NeC foram para PN: 27,5, 26,0, 26,9 kg; P210: 162,2, 161,4 e 159,6 kg e para P550: 250,1, 241,7 e 245,9 kg.
O efeito de ano de nascimento foi significativo em quase todas as características, sendo que naquelas da prova (P378 e G112), as progênies de 1981 e 1986 apresentaram as menores médias. A idade da vaca exerceu efeitos significativos sendo que as progênies de vacas de 3 e 4 anos de idade apresentaram as menores médias principalmente para P210 e P378 de machos. Sugere-se a futura correção dos valores observados nessas características, para esse efeito, bem como um aprimoramento no manejo nutricional das vacas nessa faixa de idade. A interação ano x rebanho foi significativa em quase todas características mostrando ter havido, para determinados anos, uma alteração nas médias dos rebanhos em sentido opostos, principalmente considerando-se rebanhos de raças distintas (Nelore x Guzerá).
O efeito de rebanho foi significativo em todas as características em machos, sendo que rebanhos NeS e GuS apresentaram sempre as maiores médias, o que comprova que houve uma resposta genética tanto na característica de seleção direta (P378), como em correlacionadas (PN, P210 e G112). Em fêmeas, o efeito de rebanho foi significativo para PN e P550, sendo que as menores médias foram para GuS e as maiores para NeS.
Os desvios do controle (PD378 e P/MC) foram analisados através de modelos que incluiram efeitos de mês de nascimento, rebanho, idade da vaca e ano dentro do rebanho. O efeito de rebanho foi também significativo, sendo as médias para NeS e GuS respectivamente de: 18,4 e 12,3 kg para P378 e 6,9 e 4,8% para P/MC. Para a progênie de 1986 foram de 22,6 e 22,5 kg em P378 para os mesmos rebanhos e 9,3 e 8,6% para P/MC, comprovando uma resposta genética direta significativa em machos e maior para NeS. Em fêmeas o desvio médio do controle em P550 foi de 4,6 e -4,2 kg para NeS e GuS respectivamente, evidenciando uma resposta genética muito baixa ou praticamente inexistente.
A mudança genética anual em P378 foi estimada: (1) pela diferença entre os coeficientes de regressão das médias fenotípicas anuais em função de anos de cada rebanho seleção e do obtido no controle; (2) pela regressão das médias anuais de DP378 em função de anos; (3) por um modelo que incluiu a média do controle como covariável, e (4) por cálculo aproximado envolvendo o desvio médio e o coeficiente de geração. Os valores oscilaram entre 0,94 e 2,73 kg/ano em NeS, e 1,16 e 2,65 kg/ano em GuS. Em termos padronizados equivaleram a 0,03 e 0,09 u.d.p. no NeS, e 0,04 e 0,08 u.d.p. em GuS.
As herdabilidades realizadas para P378, obtidas pela regressão dos desvios em função do diferencial acumulado, foram de 0,29 e 0,22 respectivamente para NeS e GuS. Através da razão resposta média sobre diferencial acumulado médio, os valores foram 0,58 e 0,64 respectivamente.
Concluiu-se que houve razoável progresso genético tanto em características de seleção direta, como indireta, em machos, em decorrência da seleção com base no desempenho individual. A resposta em fêmeas foi menor, ou praticamente inexistente em GuS, devido provavelmente, às condições de manejo a que são submetidos esses animais principalmente durante a seca, impedindo uma manifestação adequada dos genótipos para crescimento.
 
Tese apresentada à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, para obtenção do grau de Doutor em Ciências (Área Genética), Ribeirão Preto, SP, 1988, 168p

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